sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Imune

Esses dias eu descobri algo incrível. Ou "inquível", como diria a Nina, filhinha de dois anos e meio da minha amiga Auriana.
Às vezes pessoas me magoam. Normal. Pessoas magoam umas às outras. Com ou sem intenção. Por querer ou sem querer. Magoam. Magoam tentando se defender, magoam tentando ajudar, magoam simplesmente sendo elas mesmas muitas vezes. Magoam. Fato. Não há solução para isso. Aprender a lidar é tudo o que podemos fazer. Fazer o possível para não ser o magoador, o impossível para não ser o magoado.
Enfim... Pessoas me magoaram. Na hora doeu. Houve reação. Me afastei. O tempo passou.
E então... Quando esta pessoa que eu gosto tanto veio falar comigo pedindo desculpas do seu jeito "sem pedir desculpas", e então a encontrei e tivemos um tempo tão bom juntos... Eu simplesmente não me lembro mais o que havia me magoado. E por mais que eu me esforce agora para lembrar eu não consigo.
Isto aconteceu duas vezes nos últimos tempos.
Até me lembro da situação, mas a situação não parece mais nem grave... Quanto mais algo para me magoar... O que será que faz isso com a gente? De onde vem essa amnésia de sentimentos? Por que então simplesmente não nos magoamos na hora? Por que conseguimos compreender depois?
Acho que é porque aquela pessoa que foi magoada não é mais a mesma que está aqui agora.
Talvez um breve espaço de tempo é capaz de nos transformar quando a lição tem um impacto maior do que imaginávamos sobre nós.
Este também pode ser o mecanismo do ser humano. Então eu me pergunto... Por que tem gente que briga e nunca consegue perdoar? Por que tem gente que nunca consegue se arrepender? Por que tanta gente que não consegue se entender?
Talvez o amor esteja intimamente "metido" nessa história. Talvez ele e o tempo trabalhem juntos.
Talvez eu seja uma cabeça de melão mesmo, uma manteigona, uma bobona que sempre perdoa tudo...
Ou estou em evolução constante e agora descobri a última...
Hoje sou imune a picadas de escorpião.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Quebra-cabeça

Chega um momento na vida em que algumas coisas que defendemos tanto perdem completamente o sentido... De repente você olha pra alguém que lhe parecia um quebra-cabeça e você entende, você encaixa peça por peça como se houvesse feito isso por toda a sua vida... Você se coloca no lugar dessa pessoa de tal forma que parece sentir suas dores e anseios nos próprios poros... Você pega seus interesses mesquinhos e egoístas e os lança fora do espetáculo.
Como seria viver em um mundo onde as pessoas não pensassem apenas em si mesmas? Como seria se todos se aproximassem uns dos outros com a única intenção de fazer bem a alguém sem esperar nada em troca? Não seríamos todos recompensados com amor e paz? A verdade é que todo mundo quer as coisas boas que os outros podem lhe oferecer, mas não se preocupa em oferecer o seu melhor ao outro.
E se aquilo que o outro vive e sente não está de acordo ou de alguma forma contraria o seu próprio desejo o que fazer senão rejeitar, eliminar, execrar, esquecer o outro? É assim que é. É assim que tem sido.
Não aceito mais olhar para as pessoas dessa forma. Não está no meu quadro de expectativas e critérios... Fora. Não, não pode mais ser assim.
Logo eu, que suplico por compreensão, logo eu, que não aceito injustiças, logo eu, que sofri tanto por não ser amada apenas pelo que sou, mas sim pelo que deveria ser... Quem sou eu para impôr alguma condição àqueles que eu deveria simplesmente amar e compreender em tudo o que significam como pessoas?
Quem sou eu para não montar o quebra-cabeça? Se me entregam as peças uma a uma, ainda que com receio de que elas se quebrem em novas e doloridas partes?
Dizem que todos nós nos encontramos com os outros munidos de um pacote... Neste pacote está tudo aquilo que vivemos, todas as marcas de alegria e as cicatrizes das nossas feridas... Quem você se tornou depende deste pacote. Não há um pacote igual ao outro, jamais reconheceremos os nossos nos outros. Cabe a cada um abrir o pacote do outro e compreender quem é a pessoa a sua frente. Ou simplesmente se agarrar ao próprio pacote e morrer só com ele.
Feridas se curam. Cicatrizes se apagam. Mas só há uma chance para que isso aconteça... Não machucar mais.
Não me permito mais ferir quem quer que seja com meu egoísmo, meu egocentrismo, meu sentimento de posse, meus próprios anseios e desejos.
E aperto o foda-se no que diz respeito a mim mesma daqui pra frente.
O segredo da felicidade é tão óbvio e parece tão absurdo que ninguém consegue enxergar e portanto ninguém mais consegue ser feliz... Ninguém monta o quebra-cabeça para chegar nesta figura esdrúxula, neste quadro que beira o ridículo. Que o outro esteja acima de si mesmo e então você terá a honra e a felicidade que sempre procurou. Amar o próximo está muito além de um simples mandamento. Cristo nos entregou o caminho para a felicidade e não queremos entender.
Preferimos a vida vazia e cheia de satisfações pessoais sem sentido a entregar os pontos e admitir que o orgulho, o ser cheio de si mesmo, a intolerância e a vaidade não são nada... Não valem nada. Não somam nada. Não significam nada. E nunca, jamais te fez feliz.
Raquel, você não me importa mais. O que você sente não me importa. O que você deseja não me importa. Em algum lugar haverá alguém para montar seu quebra-cabeça e cuidar de você.
Eu agora só penso naqueles que por alguma razão estão em minha vida, naqueles que por alguma razão o impossível trouxe para perto me entregando suas peças...
E como alguém me disse esses dias... É mais fácil crer que o impossível aconteça do que no que é possível.
Eu apenas creio que de alguma forma, em algum momento, não importa quando, nem como, nem onde... Quebra-cabeças se montem. Para felicidade de todos nós...



domingo, 9 de outubro de 2011

Por cima...

"Estou sozinho por opção", "Minha ex me deixou mas foi porque não aceitou as minhas condições", "Nos separamos depois de 10 anos, mas estou muito bem sem você", "Perdi o emprego, mas não era mesmo para mim o lugar!", "Não tenho tempo para mais nada!", "Sou muito feliz sozinho", "Eu não consigo arrumar tempo para viajar (Ou será dinheiro mesmo?)", "Pôxa vida, cara, eu ontem saí com três minas na balada em que eu estava! (Duas que não se lembra por estar bêbado, uma que o "pegou" sem que ele percebesse e parecia Samara Morgan saindo da tv...), "Ela não era pra mim mesmo, somos muito diferentes"... Eu conseguiria me lembrar de pelo menos uma centena de frases desse tipo. Justificativas, desculpas, visões enobrecidas e fantasiosas sobre situações da vida para que você pareça estar sempre no controle... Uma enorme vontade de provar para todo mundo que é o cara mais foda que já habitou este planeta. E que quando as coisas saem erradas é óbvio que você já estava preparado, ou causou a situação, ou ficou feliz... Não importa o que seja.
E você vai nessa dia após dia imaginando que alguém mais acredite nisso fora você.
Mas verdade seja dita... Nem você acredita nas suas versões da história. 
Então de vez em quando mostra que alguma coisa dói. Que algo te faz sofrer. Que você tem, claro, situações adversas como todo mundo. Então mostra aquilo que a sua fantasia acha mais poético e menos decadente mostrar... Inventa uns motivos para sofrer... Claro, sempre por algo que não roube muito a sua postura de fodão. Mais mentira, mais versões para histórias, mais conceitos para justificar seus preconceitos e massagear seu ego.
Reconhecer o próprio valor é um sentimento saudável, querer impôr o próprio valor aos outros através de fantasias é neurose.
Chamam essa postura de defesa ou auto-defesa e há quem diga que se é algo inocente que não tem como intenção passar por cima de ninguém deve ser encarado como algo normal nas pessoas. Seria compreender.. Mas eu ando em uma fase complicada para entender este tipo de atitude. A autenticidade tem se tornado, dia após dia, minha busca pessoal e meu foco de crescimento. E ainda que seja inocente eu considero babaca. Que seja amar o pecador e não o pecado. Não aprovar a babaquice mas compreender o babaca. Não estou mais em condição de compactuar e fingir que acredito neste tipo de postura ou comportamento.
É hora de crescer, botar os pés no chão... Assumir as verdades que vivemos. Assumir a condição que enfrentamos. Ser humilde o suficiente para entender que a gente vive muito e não sabe de quase nada, que somos rejeitados, que perdemos, que não fomos bons o bastante em muitas situações, que sonhos se perdem, que não somos amados como gostaríamos, que a gente nem sempre é aquilo que imaginou.
Eu não faço mais questão de ser melhor que ninguém. Eu só faço questão de ser quem eu sou.
E só espero não ser mais parte dos contos de ninguém daqui pra frente. 
Que eu talvez ainda, com muita sorte, possa ser a fantasia saudável de alguém...
Que eu não seja mais parte da sua versão da história.


Foto de Paula Andrade Álvares