sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Imune

Esses dias eu descobri algo incrível. Ou "inquível", como diria a Nina, filhinha de dois anos e meio da minha amiga Auriana.
Às vezes pessoas me magoam. Normal. Pessoas magoam umas às outras. Com ou sem intenção. Por querer ou sem querer. Magoam. Magoam tentando se defender, magoam tentando ajudar, magoam simplesmente sendo elas mesmas muitas vezes. Magoam. Fato. Não há solução para isso. Aprender a lidar é tudo o que podemos fazer. Fazer o possível para não ser o magoador, o impossível para não ser o magoado.
Enfim... Pessoas me magoaram. Na hora doeu. Houve reação. Me afastei. O tempo passou.
E então... Quando esta pessoa que eu gosto tanto veio falar comigo pedindo desculpas do seu jeito "sem pedir desculpas", e então a encontrei e tivemos um tempo tão bom juntos... Eu simplesmente não me lembro mais o que havia me magoado. E por mais que eu me esforce agora para lembrar eu não consigo.
Isto aconteceu duas vezes nos últimos tempos.
Até me lembro da situação, mas a situação não parece mais nem grave... Quanto mais algo para me magoar... O que será que faz isso com a gente? De onde vem essa amnésia de sentimentos? Por que então simplesmente não nos magoamos na hora? Por que conseguimos compreender depois?
Acho que é porque aquela pessoa que foi magoada não é mais a mesma que está aqui agora.
Talvez um breve espaço de tempo é capaz de nos transformar quando a lição tem um impacto maior do que imaginávamos sobre nós.
Este também pode ser o mecanismo do ser humano. Então eu me pergunto... Por que tem gente que briga e nunca consegue perdoar? Por que tem gente que nunca consegue se arrepender? Por que tanta gente que não consegue se entender?
Talvez o amor esteja intimamente "metido" nessa história. Talvez ele e o tempo trabalhem juntos.
Talvez eu seja uma cabeça de melão mesmo, uma manteigona, uma bobona que sempre perdoa tudo...
Ou estou em evolução constante e agora descobri a última...
Hoje sou imune a picadas de escorpião.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Quebra-cabeça

Chega um momento na vida em que algumas coisas que defendemos tanto perdem completamente o sentido... De repente você olha pra alguém que lhe parecia um quebra-cabeça e você entende, você encaixa peça por peça como se houvesse feito isso por toda a sua vida... Você se coloca no lugar dessa pessoa de tal forma que parece sentir suas dores e anseios nos próprios poros... Você pega seus interesses mesquinhos e egoístas e os lança fora do espetáculo.
Como seria viver em um mundo onde as pessoas não pensassem apenas em si mesmas? Como seria se todos se aproximassem uns dos outros com a única intenção de fazer bem a alguém sem esperar nada em troca? Não seríamos todos recompensados com amor e paz? A verdade é que todo mundo quer as coisas boas que os outros podem lhe oferecer, mas não se preocupa em oferecer o seu melhor ao outro.
E se aquilo que o outro vive e sente não está de acordo ou de alguma forma contraria o seu próprio desejo o que fazer senão rejeitar, eliminar, execrar, esquecer o outro? É assim que é. É assim que tem sido.
Não aceito mais olhar para as pessoas dessa forma. Não está no meu quadro de expectativas e critérios... Fora. Não, não pode mais ser assim.
Logo eu, que suplico por compreensão, logo eu, que não aceito injustiças, logo eu, que sofri tanto por não ser amada apenas pelo que sou, mas sim pelo que deveria ser... Quem sou eu para impôr alguma condição àqueles que eu deveria simplesmente amar e compreender em tudo o que significam como pessoas?
Quem sou eu para não montar o quebra-cabeça? Se me entregam as peças uma a uma, ainda que com receio de que elas se quebrem em novas e doloridas partes?
Dizem que todos nós nos encontramos com os outros munidos de um pacote... Neste pacote está tudo aquilo que vivemos, todas as marcas de alegria e as cicatrizes das nossas feridas... Quem você se tornou depende deste pacote. Não há um pacote igual ao outro, jamais reconheceremos os nossos nos outros. Cabe a cada um abrir o pacote do outro e compreender quem é a pessoa a sua frente. Ou simplesmente se agarrar ao próprio pacote e morrer só com ele.
Feridas se curam. Cicatrizes se apagam. Mas só há uma chance para que isso aconteça... Não machucar mais.
Não me permito mais ferir quem quer que seja com meu egoísmo, meu egocentrismo, meu sentimento de posse, meus próprios anseios e desejos.
E aperto o foda-se no que diz respeito a mim mesma daqui pra frente.
O segredo da felicidade é tão óbvio e parece tão absurdo que ninguém consegue enxergar e portanto ninguém mais consegue ser feliz... Ninguém monta o quebra-cabeça para chegar nesta figura esdrúxula, neste quadro que beira o ridículo. Que o outro esteja acima de si mesmo e então você terá a honra e a felicidade que sempre procurou. Amar o próximo está muito além de um simples mandamento. Cristo nos entregou o caminho para a felicidade e não queremos entender.
Preferimos a vida vazia e cheia de satisfações pessoais sem sentido a entregar os pontos e admitir que o orgulho, o ser cheio de si mesmo, a intolerância e a vaidade não são nada... Não valem nada. Não somam nada. Não significam nada. E nunca, jamais te fez feliz.
Raquel, você não me importa mais. O que você sente não me importa. O que você deseja não me importa. Em algum lugar haverá alguém para montar seu quebra-cabeça e cuidar de você.
Eu agora só penso naqueles que por alguma razão estão em minha vida, naqueles que por alguma razão o impossível trouxe para perto me entregando suas peças...
E como alguém me disse esses dias... É mais fácil crer que o impossível aconteça do que no que é possível.
Eu apenas creio que de alguma forma, em algum momento, não importa quando, nem como, nem onde... Quebra-cabeças se montem. Para felicidade de todos nós...



domingo, 9 de outubro de 2011

Por cima...

"Estou sozinho por opção", "Minha ex me deixou mas foi porque não aceitou as minhas condições", "Nos separamos depois de 10 anos, mas estou muito bem sem você", "Perdi o emprego, mas não era mesmo para mim o lugar!", "Não tenho tempo para mais nada!", "Sou muito feliz sozinho", "Eu não consigo arrumar tempo para viajar (Ou será dinheiro mesmo?)", "Pôxa vida, cara, eu ontem saí com três minas na balada em que eu estava! (Duas que não se lembra por estar bêbado, uma que o "pegou" sem que ele percebesse e parecia Samara Morgan saindo da tv...), "Ela não era pra mim mesmo, somos muito diferentes"... Eu conseguiria me lembrar de pelo menos uma centena de frases desse tipo. Justificativas, desculpas, visões enobrecidas e fantasiosas sobre situações da vida para que você pareça estar sempre no controle... Uma enorme vontade de provar para todo mundo que é o cara mais foda que já habitou este planeta. E que quando as coisas saem erradas é óbvio que você já estava preparado, ou causou a situação, ou ficou feliz... Não importa o que seja.
E você vai nessa dia após dia imaginando que alguém mais acredite nisso fora você.
Mas verdade seja dita... Nem você acredita nas suas versões da história. 
Então de vez em quando mostra que alguma coisa dói. Que algo te faz sofrer. Que você tem, claro, situações adversas como todo mundo. Então mostra aquilo que a sua fantasia acha mais poético e menos decadente mostrar... Inventa uns motivos para sofrer... Claro, sempre por algo que não roube muito a sua postura de fodão. Mais mentira, mais versões para histórias, mais conceitos para justificar seus preconceitos e massagear seu ego.
Reconhecer o próprio valor é um sentimento saudável, querer impôr o próprio valor aos outros através de fantasias é neurose.
Chamam essa postura de defesa ou auto-defesa e há quem diga que se é algo inocente que não tem como intenção passar por cima de ninguém deve ser encarado como algo normal nas pessoas. Seria compreender.. Mas eu ando em uma fase complicada para entender este tipo de atitude. A autenticidade tem se tornado, dia após dia, minha busca pessoal e meu foco de crescimento. E ainda que seja inocente eu considero babaca. Que seja amar o pecador e não o pecado. Não aprovar a babaquice mas compreender o babaca. Não estou mais em condição de compactuar e fingir que acredito neste tipo de postura ou comportamento.
É hora de crescer, botar os pés no chão... Assumir as verdades que vivemos. Assumir a condição que enfrentamos. Ser humilde o suficiente para entender que a gente vive muito e não sabe de quase nada, que somos rejeitados, que perdemos, que não fomos bons o bastante em muitas situações, que sonhos se perdem, que não somos amados como gostaríamos, que a gente nem sempre é aquilo que imaginou.
Eu não faço mais questão de ser melhor que ninguém. Eu só faço questão de ser quem eu sou.
E só espero não ser mais parte dos contos de ninguém daqui pra frente. 
Que eu talvez ainda, com muita sorte, possa ser a fantasia saudável de alguém...
Que eu não seja mais parte da sua versão da história.


Foto de Paula Andrade Álvares

sábado, 24 de setembro de 2011

Eu, o violão e a cozinha...

Nos últimos tempos não tenho mais horas de folga... Horas de folga são para lavar roupas, cuidar da casa, comprar comida, médico, essas coisas que gente pobre faz quando está fora do trabalho. Graças ao horário maluco e exaustivo do trabalho passo muito tempo sozinha pois meus horários não batem com o de ninguém. Então está sendo cada dia mais difícil conviver com as pessoas que amo. Tempos difíceis. Tempos de guerra. Tempos em que olhar para o futuro é o que justifica sair da cama todas as manhãs... Daqui um tempo eu mudo toda essa condição. Mas este não é o momento. A ordem é segurar a onda. A ordem é sorrir quando se quer chorar e seguir em frente. É fase. Como toda fase passa. Desespero não combina mais... E enquanto eu puder ter alguém para me ouvir e mesmo de longe estar por perto eu vou juntando força, força, força e vou indo. Uma hora eu chego lá. Mesmo porque a cada dia fica mais claro o que eu quero. E descobrir para onde vamos é com certeza o primeiro passo da jornada.
Todos tem suas fontes particulares de força e coragem, eu também tenho. Mas não imaginava que uma delas seria algo tão simples quanto sentar na minha cozinha com minhas pastinhas de cifras e... cantar.
É lá onde estou nas minhas luxuosas horas de folga... Tem quem cante no banheiro, eu canto na cozinha.
Com um violão emprestado sem marca, um set list mais eclético que Rock in Rio e tão eclético quanto meu gosto musical... Às vezes eu sento e canto duas horas seguidas e só então me dou conta de que o tempo passou. O público nunca aplaude, mas nunca critica e jamais pede alguma música que eu não queira cantar... Ah sim, eu também nunca ouço "Toca Raul"...
Há quem viva do passado "musical", há quem esteja engajado em dois mil quinhentos e noventa e quatro projetos musicais diferentes.
Eu não... Eu estou lá me apresentando pelo menos quatro vezes por semana na minha cozinha.
Acho tosqueira viver de passado musical. Ficar naquele sentimento nostalgico de "Então, cara, eu abri o show de fulano de tal, eu gravei com ciclano, eu tenho contato de...", ah não. Isso não. Que importa se você tocou para cinco mil pessoas se hoje você não faz nada melhor que suspirar pelos seus anos áureos? E pior que nem fez nada de significativo também... E fala como se houvesse tocado no Hollywood Rock de 96... Se você se sente assim por que não faz alguma coisa? Cara, faz qualquer coisa! Só não fica contando a mesma história pela milésima vez para a mesma pessoa do dia em que você tocou no palco de sei lá onde... Às vezes eu lembro de alguma história interessante dos dias das bandas. Mas não acho que eu era feliz naquela época e hoje não sou mais. Dias diferentes, fases diferentes. Não estou fazendo porque não quero, porque não sinto. Se sentisse e quisesse estaria fazendo. Posso querer denovo. Posso achar os músicos certos. Posso e basta. Mas música pra mim está tão além de comercializar, aparecer, sucesso...
E o cara dos quinze mil projetos... Não estou falando de músico competente que toca em várias parcerias ou que vive de música. Estou falando do camarada que toca por "diversão" em oito bandas diferentes e faz oito trabalhos furados. O negócio toma todo o tempo dele. Ele não estuda (nem profissionalmente e nem música), não passa um tempo de qualidade com quem importa, não está ganhando dinheiro, não cuida de si mesmo... Será que acredita mesmo no que faz ou será que apenas enche seu tempo livre com música porque esta é a única coisa que pode fazer? Música como fuga ou algo assim...
Ah, mas quem sou eu para falar? Sou só uma cantora de cozinha. Eu, o violão e a cozinha...
Hoje canto para lavar a alma, canto para lembrar quem eu sou, de onde vim, para onde vou. Canto porque viver às vezes dói. Canto porque viver às vezes é tão incrível que eu nem posso explicar. Canto porque sonho. Canto porque acordo. Canto porque rio, porque choro... Então canto.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Às avessas...

Se você quer realmente me proteger
Daqueles que poderiam me ferir
Por que não começar por você?

Se importasse o que dizem ou pensam
Aqueles que jamais amei e jamais amarei
O que seria de mim?

Eu posso me proteger daqueles que não importam
Eu estou tentando aprender a me proteger de você...

Eu quero estar perto
Você quer estar certo...

Reclama a minha ausência
Enquanto diz não acreditar...

E em minha essência
Há o sentimento
Às avessas...
Insistir em ficar.


Foto de Paula Andrade Álvares

terça-feira, 26 de julho de 2011

Eu desisto... Finalmente.

Desistir pode ser visto como se retirar da luta. Desistir pode ser entendido como abandonar, como deixar pra lá. Simplesmente desistir. Neste caso desistir tem a ver com começar denovo.
Já faz algum tempo que eu não tenho mais o que chamava de "minha vida". Já tem algum tempo que ficou só Raquel, as paredes, nenhuma esperança, um anseio quase insuportável nunca curado e o vazio. Vazio este que tentei preencher com tantas coisas que jamais valeram a pena. Vazio que foi maior até que o "cheio" que houve algum dia. Nada poderia suprir o que faltou. Nada taparia o buraco que ficou. E lá fui, perfeitamente insana como todos somos em dor, tentar em tantas noites mal dormidas, histórias, coisas, situações sem lógica procurar respostas e sentimentos que jamais poderiam ser encontrados.
Houve um tempo em que verdadeiramente houve alguém que foi capaz de me trazer à luz neste período de trevas. E se estou aqui despertando foi porque há em minha vida um homem chamado Carlos Diniz, meu tio, que por exemplo, compreensão, entendimento, amor incondicional me trouxe à razão em muitas angústias. 
Tudo tem seu tempo. Tudo tem a hora certa de acontecer. Evoluir é isso. Aprender, crescer, amadurecer, chamemos daquilo que nos fizer compreender mais facilmente o que é ser uma pessoa melhor hoje do que fui ontem.
Então hoje... Eu desisto... Finalmente.
Desisto de tentar entender onde eu errei tanto. Se no fim das contas a única agredida em idas e vindas por um mundo que não me pertence fui eu mesma e ninguém mais.
Eu desisto de tentar explicar o porque das pessoas acabarem se tornando o que elas mais temem.
Eu olho agora para alguém que parece não perceber a colheita maldita da própria plantação e penso... Onde agora o seu caráter? Onde agora a sua honra? Onde agora quem você era? 
E eu vejo a mim mesma dispensando um tipo de amor incondicional agora... Amor incondicional. Aquele que nos faz semelhantes a Deus. Aquele que Ele é capaz de sentir. Então eu me descubro assim. Vendo que me foram impostas tantas condições para que eu fosse amada. Enquanto eu verdadeiramente não posso impôr nada para aqueles que realmente amo.
E deveras isto me fazer maior do que acreditaram e me fizeram crer. Ou que fingiram acreditar para que se libertassem de suas próprias culpas. Eu levei comigo o pesar de muitos corações. As justificativas de muitas decepções. Eu fui forte o suficiente para tal. Eu fiz o sacrifício que não cabe mais a mim. Portanto... Desisto.
Eu desisto... Finalmente... De esperar de alguém o que só eu mesma sou capaz de ser.
Encontro em mim mesma, desperta de um sonho que durou muitos anos, a pessoa que eu gostaria de ter ao meu lado por toda a vida.
E o futuro já não importa tanto se o presente diz tudo o que eu queria saber.
Acordo de um sonho e vejo minha vida, a real... Muito mais bela do que imaginava.
Eu desisto de você. Mas espero que você se encontre. E que fique bem, e que seja feliz...
E ainda que eu seja a resposta para o que você enxerga agora... Eu descobri que sou a minha resposta também. E sentindo, sabendo, enxergando, crendo no que creio...
Desisto de você... Nunca desistirei de mim mesma.

domingo, 17 de julho de 2011

Um domingo para não quem não quer nada...

Só sabemos falar das coisas que queremos. O tempo todo. Hoje eu decidi viver um domingo sem querer nada. Será que você realmente precisa daquilo que pensa que precisa? Será que você realmente quer aquilo que acha que quer?
Será que sonhei o sonho certo para a vida errada? Será que o sonho errado é a resposta para a vida certa que segue por caminhos e encontros que não surgiram no momento devido? Será o momento devido o dia que não chega enquanto preenchemos os espaços em branco tentando encontrar a nós mesmos?
Hoje eu decreto. É um dia vazio. Eu não vou trabalhar para comprar todas aquelas coisas que não preciso. Não vou tentar agradar ninguém. Não vou colocar uma roupinha descolada e estilosa para sair por aí. Não vou me maquiar para parecer mais bonita por fora enquanto o que é belo se esconde por trás de todas as máscaras. Eu não vou ter vontade de falar com alguém se o que tenho a dizer não significa nada para ninguém mais. Eu não vou arrumar nada ao meu redor, nada precisa tanto assim da minha atenção. Eu não vou trocar a música se quero ouvi-la pela centésima vez esta semana. Eu não vou pensar nem no ontem, nem no amanhã. Já foi, ainda será. Hoje eu quero tudo de graça. Hoje eu não sou exemplo para ninguém. Hoje eu não vou entender, nem compreender, nem sonhar, nem fazer planos. Hoje não... 
Eu não quero dinheiro.
Eu não quero seu amor.
Eu não quero sua atenção.
Eu não quero saber sobre os seus problemas, eles não são diferentes dos meus, eu não quero saber dos meus.
Eu não quero seu sorriso forçado, menos ainda sua saudação sem saudosismo, menos ainda seu olhar que finge interesse, nem que você me pergunte se tudo vai bem. Não vai. Hoje eu não quero nada.
Isso não quer dizer que eu esteja triste.
Eu não anseio ser parte da geração insone, perplexa e inconformada da qual faço parte. Eu não quero ser parte de nada. Eu sou inteira. E ainda que nada, completa.
E talvez também não quisesse plenitude se ela significa filosofia sem fim, questionamentos que me impedem de encarar um vazio tão cheio de mim mesma e não do nada que queria encontrar.
O budismo diz que a ausência do desejo é a ausência do sofrimento.
Hoje eu não quero saber.
Hoje eu não quero sentir.
Hoje eu não quero sorrir.
Hoje eu não quero sofrer. 


Foto de Camile D'Avila


"Dizem que a gente tem o que precisa. Não o que a gente quer. Tudo bem. Eu não preciso de muito. Eu não quero muito. Eu quero mais. Mais paz. Mais saúde. Mais dinheiro. Mais poesia. Mais verdade. Mais harmonia. Mais noites bem dormidas. Mais noites em claro. Mais eu" Caio Fernando Abreu

sábado, 16 de julho de 2011

Felicidade onde?

Eu poderia apenas supôr que a vida é uma música de Aretha Franklin. O bem, o mal, o swing, as desilusões e os sonhos... Mas existem muitas outras canções. E a gente canta, dança, sente, chora, esbraveja, grita, amaldiçoa, perdoa, pede perdão, aceita e segue em frente ao som que nos toca.
Minha vida hoje é um som do Lenine. Só quem criou explica como tais notas se reuniram, algumas partes a gente nunca vai entender como surgiram e aconteceram, tem um swing incrível, muitos momentos nos levam a pensar, muitos outros só a enlouquecer...
Acho que sou uma filósofa por natureza, tenho aqui comigo todas as perguntas, respostas quase nenhuma. Mas pelo menos tenho as perguntas. Há quem não tenha nenhuma. Aí sim é triste. Ou pensam que sabem tudo ou não querem saber de nada.
A vida é sim uma pergunta procurando uma resposta. Evasivo isto? Talvez. Mas é real.
Todos os dias... Acordar, levantar, trabalhar, procurar aprender algo novo, sonhar, amar (amar às vezes o seu amigo que te disse algo tão bom hoje, o seu cachorro, a banana caramelizada na sobremesa do refeitório...), tentar ser feliz... Todos os dias... Tentar ser feliz.
Então passou mais um dia e você se pergunta se foi feliz. Então não. Não foi. Por que?
Se você tem pai e mãe e mora com eles, você está insatisfeito porque eles cuidam de você mas te enchem o saco. Se você mora sozinho está insatisfeito porque está sozinho, ponto. Se você divide a casa com um amigo você odeia o jeito dele fazer as coisas. Se é casado fica cansado do seu parceiro por tantos motivos diferentes que aí eu precisaria dedicar uma outra crônica somente para falar deles.
Se está solteiro não está feliz porque está sozinho, ponto denovo. Se namora, o namorado ou namorada enche o saco, tira a sua liberdade, não te deixa ver seus amigos, etc. Se é casado... Bom, outra crônica denovo.
E a regra se aplica a todas as outras áreas da nossa vida. E a conclusão é uma só... Felicidade onde?!
A vida é feita de tantas obrigações, mal entendidos e decepções que em alguns dias a gente não quer nem levantar da cama, fala a verdade...
Estudar, trabalhar, cuidar da casa e das coisas que possuímos, pagar contas, comer corretamente, beber dois litros de água por dia, médicos, filhos, o cachorro está doente e precisa ser levado ao veterinário, mais contas para pagar, falar com gente que a gente não quer falar, entender, perdoar, compreender, deixar pra lá... Felicidade onde? Quero minha cama, um sono profundo que dure uns 3 anos. Pode? Não.
E aquilo que dá prazer pode? Não pode. Álcool faz mal, fumar faz mal, balada demais transforma a gente em idiota e perdido que pode não se encontrar nunca mais, comida gostosa engorda, faz mal à saúde... Até chupar um Halls faz mal aos dentes. Felicidade onde?
As pessoas são difíceis, às vezes impossíveis. A gente tem tanto problema em se relacionar uns com os outros que às vezes pensa em nunca mais ver ou falar com ninguém. Alguém sabe de algum ap para alugar nas montanhas em algum bairro de eremitas? Não? Pena. Felicidade onde?
Então um dia você entra em desespero porque parece que tudo é inútil, tudo é em vão, tudo é sem sentido... Você está cansado de tentar ser melhor, de buscar soluções e sentidos, de tentar ser feliz...
Então eu digo onde a felicidade...
Um dia você vai fazer um exame médico para começar no novo trabalho e conhece a pessoa que vai trabalhar com você, o nome dela é Viviane, então descobre que ela é uma jóia rara e que tem uma amiga para a vida toda.
Você sai em um sábado à noite para uma festa junina e por acaso encontra lá seu irmão e sua cunhada e vê e sente o quanto eles estão bem.
Você precisa de um trabalho, quando ninguém acredita em você, você precisa falar um monte de coisas que ninguém mais entende, você precisa de alguém que ria das suas piadas de humor negro e faça piores para no fim dizer que "não é bem assim", você só precisa chorar e saber que alguém se importa com você... A Jéssica sempre vai ligar em um dia ou momento desses, ela sempre vai estar por perto e não vai se importar se você disser alguma coisa estúpida quando estava bêbada, ela vai entender que você estava bêbada. Um verdadeiro amigo gay presa em um corpo de mulher. Ha!
Você ficou bêbada, errou, falou o que não podia, fez o que não podia... Você não está sozinha. A Fina e a Maria Eduarda vão te fazer rir de tudo isso, te ajudar a limpar a bagunça, vocês vão dançar Madonna, vão encrencar umas com as outras depois, vão se culpar pelo que se perdeu, elas dirão então que você é ótima apesar de todas as merdas que você possa ter feito. Então você sente que não está só. Nunca...
É sábado à noite. Um dilema emocional. Ir ou não ir para um bar. Não se preocupe. Fernanda Lucena vai chegar na sua casa munida com lanches do Mac Donalds, muito humor negro e a segurança de uma amazona saindo pra guerra de que você é a companhia que ela quer a madrugada toda. Vai assistir Enrolados da Disney com você (e gostar!), vai rir de você e com você, vai falar, falar, falar, ouvir, ouvir, ouvir até às seis da manhã. Não vai se importar se você está usando um short ridículo e uma camiseta desbotada do Charlie Brown Jr., se você não penteou o cabelo, nada disso. Ela é demais... E ela não é Jessica Rabbit. Nem quer ser.
Você está pronta para ter um ataque de stress, surtar, enlouquecer, travar desde o nervo ciático até o dedinho do pé. Seus problemas acabaram! A Taty ligou e está vindo fazer qualquer coisa com você... Então ela vai te ouvir e vai rir com o jeito todo dela dos seus problemas, vai falar "foda", vai dizer "ai, Quel", vai rir mais um pouco, te dar um monte de conselhos que você nunca segue um oitavo deles talvez só para que ela volte, vai toda chique assumir o que é e o que sente sempre e vai assim te encorajar a continuar sendo o que é, tentando ser melhor. Educação por exemplo, não é pra qualquer um, bicho!
Felicidade onde?
Em todo lugar, em tantas pessoas, em tantas risadas, em tantas superações, em tantos que podem me compreender, conhecer e me dar a coisa mais preciosa que possuem, seu tempo.
Eu erro, eles erram, nós erramos. Uns acertam mais, mas também erram. Uns erram mais, mas também acertam. E assim a gente vai encontrando felicidade em todos os momentos.
Eu sou o mais típico exemplo de pessoa que não é uma completa inútil porque serve de mau exemplo. Eu tenho mil defeitos e muito a aprender. É felicidade também poder enxergar isso.
Felicidade há até em minha solidão.
É nela que eu posso refletir e perceber que felicidade existe.
Vou chegar em casa hoje e a Indi vai me receber como se eu fôsse um dos Beatles.
Felicidade onde? Viver!

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Eu não sou Jessica Rabbit

Levamos muito tempo para aprender algumas coisas. Levamos muitas decepções, muitos sonhos desfeitos, muitas traições e muita dor para aprender algumas coisas. E se a gente tenta pular alguma lição a vida vem e tenta te ensinar denovo, denovo e denovo. Até que a gente se renda e entenda que algumas coisas nunca serão como gostaríamos. NUNCA.
Eu gostaria, por exemplo, que me relacionar com as pessoas fôsse algo bem descomplicado e suave, cheio de amor e humor, sempre algo bom. Mas a regra é outra. Quase nunca é nada disso. Quando parece ser... Não era.
Infelizmente todos estão tão preocupados em competir com as pessoas que se relacionam que não conseguem estar lá com o coração. Aliás esta é uma outra boa pergunta. Será que existe ainda muita gente que realmente tenha um coração por aí? Porque o que parece é que todos estão aqui apenas como mensageiros do destino nas vidas uns dos outros, só de passagem para te dar uma nova lição.
Mulheres competem, homens competem, gays competem, homens e mulheres competem... Competição, competição, competição. Tudo se resume a isso.
Eu tenho a obrigação de ser a mais bonita, a mais gostosa, a mais inteligente, a mais engraçada, a que tem mais grana, a que se veste melhor, a mais popular... Tenho que ser algo entre Jessica Rabbit e Jennifer Aniston de segunda à segunda, vinte e quatro horas por dia. Mas quem disse isso?!?!?!
Não sou candidata a vaga de rainha da bateria de nenhuma escola de samba, não estou concorrendo ao Pulitzer, não sou líder de nenhum movimento revolucionário em pró da paz mundial, não sou política, não participo de concurso algum, nem aqueles de "Faça uma frase com o seu fermento preferido, a frase mais criativa ganhará uma viagem para Cancún com todas as despesas pagas e ainda poderá levar um acompanhante". Então por que raios eu tenho que ser alguma coisa ou me esforçar para ser a "mais" qualquer coisa? Isso vai fazer diferença? Ah, claro que vai. Com certeza eu vou me sentir muito, muito frustrada cada vez que eu não fôr a "mais" qualquer coisa  e vou deixar de enxergar o meu valor real por conta disso. E o meu real valor, e o seu real valor vai perdendo a importância a cada dia enquanto ganhamos e perdemos nossas competições por aí.
E essa competição desenfreada que estamos vivendo o tempo todo é quase sempre inconsciente, estamos tão acostumados a viver nela que deixamos de notar quando ela acontece.
Mas às vezes alguém entra de tal forma nessa viagem que começa a expressar isso de tal maneira que não podemos mais ignorar e simplesmente seguir ao lado da pessoa como se tudo fôsse normal... Chega o momento de parar e entender o que houve. Chega a hora de dar tchau. Porque algumas pessoas infelizmente só conseguem ficar felizes quando vê o outro infeliz. E estou começando a acreditar que isso tem mais a ver com o "concurso" do que com inveja. Seria mais megalomania que inveja. A pessoa não quer ser você ou igual a você. Ela só não pode suportar a idéia de que você seja melhor que ela em alguma coisa. Porque ninguém pode ser "mais", ninguém. Se você fôr vão tentar te convencer de que você não é para que você não seja... Mesmo.
E aí eu vejo que se você é alguém com talentos e qualidades que chamam a atenção das outras pessoas você com certeza em muitos momentos não se sente seguro com nada do que você é. Porque certamente ao seu redor estão as mesmas pessoas, que você conquistou com seus talentos e qualidades, prontas para minar sua segurança. Algo como o assassino de John Lennon, acho que ele representa bem a personalidade que predomina em nossa geração. O sujeito que quer atenção e não consegue, quando ele ataca alguém que tem ele sobe ao pódium... E lá está ele dividindo a champanhe por alguns momentos. Por uma maldade? Que seja. Pelo menos naquele momento ele está sendo reconhecido. Reconhecido como um filho-da-puta, mas reconhecido.
Eu não consigo mais viver com isso. Eu cansei.
Eu nunca vou ser a melhor em no mínimo um milhão de coisas e no que sou boa continuarei sendo... Não posso permitir que me cobrem ser a melhor no que não sou e nem me interessa ser, e nem pretendo me fazer de coitada e agir de acordo com o que não vai despertar a ira/inveja/espírito-de-competição nos outros. Eu vou continuar sendo o que sou. E vocês, assassinos de John Lennon, arrumem as desculpas que lhe couberem melhor para justificar os erros que cometeram comigo. Mas arrumem para si mesmos e para os outros. Porque eu não aceito mais explicações. Eu só aceito o que você fez!
Nos manteremos afastados por um abismo enorme daqui pra frente. Entre nós será pra sempre o papinho de bar, o "oi, tudo bem?", as boas histórias da época que eu confiava em você também permanecerão para sempre. Seu papel na história será sempre honrado e você terá o meu respeito, mesmo que você não tenha me respeitado. Minha resposta será essa para você. A única coisa é que do meu lado não mais. Mas acho que não vai fazer falta, afinal... Se importasse você teria me respeitado um pouco mais quando houve oportunidade. Então, pôxa vida, está tudo bem. Não vai mudar nada.
Talvez mude algo sim.
Já mudou.
Não quero ser a melhor, quero ser aquela que tem valor.
Não vivo dentro de um padrão que não me convém. Não anseio mais o que não posso ser ou ter. Me conhecer talvez seja o que realmente anseio.
Mas eu descobri algo...
Não quero ser e não sou Jessica Rabbit.
Aqui tem a Raquel, como sonhei que seria quando eu era criança, não poderia ser melhor que isto.
Quem não entende pode ir embora, quem quiser competir comigo também.
Porque eu não sou Jessica Rabbit.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Fone de ouvido

Dez para as cinco da manhã meu celular toca Alanis Morrissete, "King of Pain"... Já que é para acordar que seja da melhor maneira que eu puder encontrar... Ok, ok... Podia ser com um sussurro no ouvido de Jared Padalecki, seguido de um abraço e um beijo que ignorasse completamente o meu bafo da manhã, mas meu celular infelizmente não tem essa opção na função do despertador... Acordar com a Alanis cantando já está de bom tamanho.
Então o ritual clássico, comida da Indi e da gatinha, colocar alguma das roupas que nunca vão ficar como eu gostaria, café, sapato, o primeiro Marlboro do dia... E lá vou eu.
Sou uma das primeiras a pegar o fretado, o que é bom e é ruim. Bom porque escolho o lugar que eu achar melhor. Ruim porque se sou uma das primeiras a ser levada é porque também serei umas das últimas a ser deixada. E todos os dias são três horas dentro do ônibus... Indo e voltando do trabalho.
Quanta coisa não acontece em três horas? Em três horas a gente pode mudar a história da humanidade, a gente pode fazer um show no Morumbi para cem mil pessoas, a gente pode encontrar o amor das nossas vidas, a gente pode chegar na praia, cara! Mas não... Lá estou eu indo e voltando do trabalho. E enquanto no fone de ouvido toca minhas músicas preferidas e eu durmo enquanto as ouço ou leio algum livro tudo está certo. O verdadeiro problema é esquecer o fone de ouvido como aconteceu ontem.
Errar é humano, compreensível, perdoável... É normal perder o controle em algumas situações de nossas vidas, magoar alguém com ou sem intenção, perder dinheiro, acreditar nas pessoas erradas... Tudo isso eu posso entender. Mas esquecer o fone de ouvido quando você está viajando junto com a produção da empresa não! Não é compreensível! É imperdoável! E como a lei de Murphy é algo que impera no meu dia-a-dia, justamente ontem mudaram a empresa de ônibus (denovo!) e o novo motorista necessariamente irá mais devagar para aprender o itnerário. Então aquela uma hora e meia se transformará com muita sorte em duas horas, senão duas horas e meia...
E ontem as meninas do tal fundão estavam com muita fofoca pra pôr em dia enquanto eu, pobre de mim, estava de ressaca, com sono, cansada, irritada, sozinha à tarde toda resolvendo os pepinos que apareceram no trabalho... Então a tortura começou logo na saída...
O primeiro assunto em pauta foi fazer ou não fazer nhoque naquela noite, a mãe de uma delas ser uma exímia cozinheira e a mãe da outra nunca estar em casa pra cozinhar. O próximo assunto foi o tempo das regras mensais de cada uma delas. Seguiu-se então uma bateria de coisas interessantes em pauta como estas... Cabelo da moça nova da produção, o namorado de uma que ia jogar futebol denovo ao invés de ir vê-la, regras menstruais denovo, uma das palavras mais repetidas foi "modess"... Pra mim é uma palavra mais feia que o pior palavrão que a gente possa dizer.
E eu lá, tentando dormir, sonhando com um fone de ouvido, tentando dormir, sonhando com uma arma com um enorme poder de fogo para matar a todos, tentando dormir e pensando que eu poderia estar em tantos lugares naquele momento...
Mas a pior parte foi a final... Uma das garotas estava combinando pelo celular com o namorado dele ir buscá-la no ponto. E foram, sem exagero algum, oito ligações. Eu disse "oito" ligações para tratar um encontro no mesmo, exatamente no mesmo lugar de sempre!!!!!! E eu me perguntava... Por que, em nome de Cristo, são necessárias oito ligações dizendo: Estou chegando, estou em tal lugar, estou indo, estou, estou... Aaaaahhhh, neste momento senti que a insanidade ia tomar conta de mim... E é claro que se eu tivesse surtado eu estaria errada e seria encaminhada a um psiquiatra. Anormal seria eu de me irritar com coisa alguma, não é mesmo?
Então respirei, contei até dez, cantei um mantra, orei, fiz uma promessa... E finalmente as duas horas haviam acabado.
Tudo o que eu queria era ir pra casa. E pra que? Para que a noite passasse muito rápido.
Para que hoje começasse tudo outra vez.
Mas hoje... Hoje eu não esqueci o fone.



domingo, 27 de março de 2011

Mudanças

Não entendo porque ainda hoje temo e tremo diante das mudanças.
Não foi necessário mudar tantas e tantas vezes até aqui? Eu já não deveria ter me acostumado? Não deveria entender que todos os dias tudo é diferente e por mais que façamos planos nossas vidas nunca estão totalmente sob nosso controle?
Não, nunca me acostumo a mudar. Me sinto sempre "pega de surpresa". Acho que a verdade é que sou perdidamente apaixonada por uma calma, repetitiva e previsível rotina. E quando é preciso encarar o novo fica no ar aquela sensação do "E agora? O que será? O que será?". Você sente frio na barriga, medo do desconhecido, ansiedade... E normalmente o que vem com a mudança não é nada daquilo que você imaginou que seria... No fim você tira de letra e quando se dá conta já se habituou à nova situação e bola pra frente... Então do nada... Tudo muda denovo... E lá está você denovo roendo as unhas, pensando "E agora?".
Todo mundo gosta de dar o conselho: Não sofra por antecipação, não se preocupe antes do tempo... Mas, por Deus, tem alguém que consiga agir assim?
Se alguém consegue me conta a fórmula... Porque até hoje não sei o que fazer para acalmar os ânimos diante das mudanças... Eu imaginava que quando estivesse mais velha eu saberia lidar com tudo... Descobri que sempre estamos esperando um "estar mais velhos e mais maduros" que nunca chega...
Mas mudar é evoluir, mudar é crescer, mudar é viver... Quem quer ser igual sempre?
E bem disse Shannon Hoon do Blind Melon: "Quando a vida é dura, nós temos que mudar".
E eu espero novas mudanças... De preferência amanhã bem cedo.

"Tonquinha"

Ele vai chegar aqui no pula-pula do Gugu
Ele vai chegar em uma tonquinha...

- Meu primeiro amor tem uma foto numa tonquinha...
- Quando ele era bebê?
- Não, quando ele era velho...

(Papo furado de Raquel e Milli numa sexta-feira qualquer...)

domingo, 6 de março de 2011

Mina da frente

Vivemos em uma terra sem lei
A lei é comprada, vendida
Só vale pra quem não machuca ninguém
Para quem é do bem e quer ir além
Do talento e capacidade que tem

Cravado nas veias
Por ser brasileira
Vida maneira
Enrolada nas teias

Incomodado está o moralismo imoral
Tão conveniente aos presentes
Doentes no corpo e na mente
Não compreendem
A vida está além do que entendem

E se ela te surpreende
Jogue fora seus conceitos
Olhe profundamente
Veja realmente
Quem é a mina da frente

(Escrito em outubro de 2008 após as reclamações dos vizinhos, que observam a minha vida como se eu estivesse no Big Brother terem colocado um fim no Arruaceiros Rock Bar, meu bar que em 5 meses sem música ao vivo reunia o maior público alternativo da  cidade)



Por onde eu passar

De repente me dei conta
O tempo está passando
Juro que ontem eu era criança
E hoje não posso ser mais

Me dei conta de outra coisa
Não é só o tempo passando, é a vida

Tomei uma decisão diante disso
Não quero mais correr, acumular
Parecer, aparecer
Não quero ter, eu quero ser

Sei que a vida vai passar
Comigo nada vou levar

Minha escolha é final
Enquanto eu puder
pensar e cantar
Seguirei deixando
Tudo o que tenho
Tudo que sou
Por onde eu passar

(Escrito janeiro de 2008)


Foto de Paula Andrade Álvares

quinta-feira, 3 de março de 2011

Paliativa


Ela está trancada no banheiro
Caneta, papel e seu entorpecente favorito
Perigoso, paliativo, perfeito para a fuga...

Ela está entre tantos outros
No local que considera mais seguro

Foge da realidade
Ignora a ironia
De tentar fugir de si mesma

Ela só quer sobreviver
Escreve para não enlouquecer

Deixa ela
Deixa ela se deixar
Ela vai se encontrar

Morrer seria fácil demais
O destino de simples mortais
O comum, o clássico
Ser transformada em estatística
nos jornais...

Ela vai sobreviver
Mais uma vez

Ninguém duvida
Qualquer hora dessas
Ela vai renascer...

(Escrito em fevereiro de 2009)


Foto de Milli Fernandes

quarta-feira, 2 de março de 2011

Recomeçar...

Recomeço...
Posso dizer que me conheço e reconheço em meio a velhos problemas, canções e poemas que jamais cheguei a finalizar... Admito erros, tropeços, medos... E encaro a mim mesma no espelho com a coragem de quem enfrentou pesadelos... E conseguiu todas as manhãs acordar... E levantar... E seguir em frente. Não ignoro a mulher que me tornei. Embora muitas vezes no espelho eu ainda veja a menina de 15 anos que se transforma e renova a cada dia.
Este ano... Trinta anos.
Não cabe mais a rebelde sem (ou com muita) causa... Complexos sem pauta... São tantos personagens, por que deveria representar aquele que não serve mais?
Vivo uma época de mudanças, planos, sonhos, guerras, lutas e por que não dizer? Esperança...
A pergunta que não cala aqui dentro é... O que faz o universo se mover? O que poderia influencia-lo a conspirar e cooperar para que tenhamos aquilo que desejamos? Uma delas certamente deverá ser... Não parar de desejar!
Desejo neste ano trocar os dramas pessoais de sempre. Vencer a mim mesma naquela meia dúzia de futilidades insanas que me tiram a paz. Amadurecer. Me superar. Que os dramas se renovem, antigas dores cessem para sempre.
Decido... Não sabotar mais o trabalho e a disciplina que necessito, e acima de tudo, não me culpar caso venha a sabotar.
Prometo... Tentar fazer tudo certo e algumas vezes me conceder o direito de fazer tudo errado.
Eu aceito... O que sou, o que amo, o que quero e o que espero.
Este ano não farei nenhuma lista das coisas que quero e preciso fazer. Apenas as farei. Não assino mais contratos comigo. Serei para mim mesma, uma boa e velha amiga.
Quero ser mais Raquel do que jamais fui antes... Quem não entende, pode ir embora.
Mas isso não significa que eu não vá me importar...
Todos os dias acordarei com a missão de ser uma pessoa melhor do que fui ontem.
Por mim.

(Divagações de 1 de janeiro de 2011)


Stonehenge

Foto de Paula Andrade Álvares