domingo, 11 de novembro de 2012

Manhãs

Meus dias começam cedo. Todos eles. Desde que me tornei mãe. Todos eles.
E por um tempo eu achei ruim... E fiquei desejando poder dormir um pouco mais... E fiquei imaginando se um dia eu ainda poderei dormir um pouco mais. 
Mas hoje meu filho completa sete meses e não sinto mais falta de dormir um pouco mais.
Porque de manhã eu sou a Raquel que eu gostaria de ser todas as vinte e quatro horas do dia. 
Porque eu acordo com a impressão de que o mundo é novo todas as manhãs, de que sou nova todas as manhãs... E que sou capaz de fazer qualquer coisa. Porque eu ACORDEI.
Minha vida mudou, eu mudei, meus sonhos mudaram, meus objetivos são outros. 
E como sentir falta de um tempo em que acordar doía tanto? Como sentir falta de um tempo em que o sol não brilhava assim? Não há nostalgia mais. O que existe são essas manhãs em que estou acordada enquanto meus amores voltam a dormir e eu fico aqui fazendo planos para o dia, para que eles fiquem felizes como eu me sinto feliz... Ou as manhãs em que faço todo mundo acordar comigo e imito o burro do Shrek dizendo "vamos lá, vamos nessa, isso aí" e vou trabalhar com a certeza de que tudo vale a pena. E o cansaço que me faz dormir às sete da noite em um sábado à noite é aquele que faz com que eu me sinta útil, importante e fundamental para alguém. 
Meu filho acorda sorrindo todas as manhãs, ele é mais sábio do que eu jamais fui. Ou talvez tenha sido, em um tempo que eu não poderia lembrar. E eu consigo arrancar um sorriso todas as manhãs desse "menino grande" que está aqui do meu lado logo que ele acorda, mesmo que ele não queira, ele não consegue evitar. Por aqui a gente sorri de manhã. Sempre. E eu não preciso de nada além deles estarem aqui para sorrir também.
São essas manhãs... Em que eu poderia voltar a dormir, em que eu poderia estar fazendo qualquer outra coisa que tem mudado a minha história.
Uma manhã de domingo como a de hoje... Que me faz sorrir, que me faz feliz.
Porque eu ACORDEI... E felicidade está aí. Então vamos sorrir...


domingo, 3 de junho de 2012

Relacionamentos que dão certo

Relacionamentos, relacionamentos... Estou cansada de filosofar, viver, acontecer e sempre chegar naquela estúpida conclusão de que nada dá certo. "O que não dá certo, minha filha?", eu então me pergunto... Será que eu ainda estou naquela do "viveram felizes para sempre"? Já deu, né? Tem um monte de relacionamentos que dão certo. Eu inclusive tenho uma tese de que todo relacionamento que acontece dá certo, nem que seja um daqueles "balada-fim-de-noite"... Você olha pra ele, ele olha pra você, não precisam necessariamente ter uma longa conversa sobre profissão e sonhos para o futuro, não precisam necessariamente sequer saber o nome um do outro... Rolam uns beijos e mais nada. Você volta pra casa com as amigas. Ele vai pra casa com os amigos.  Não rolou sexo, você pegou o telefone, ele pegou o telefone, mas ninguém vai ligar. Por que não deu certo? Deu certo sim. Naquela hora este era o relacionamento que você queria, que a pessoa também queria. 
"Oh, meu namoro durou dois anos, mas não deu certo". Como não? Foram dois anos dando certo.
"Morei com ele dez anos, tivemos um filho, mas não deu certo". O que? Não deu certo? Você tem uma história com a pessoa, gerou uma vida, sentiu na pele a aventura de ter morado debaixo do mesmo teto com outro alguém dez anos e acha que isso é não dar certo?
Por que essa ilusão de que para que um relacionamento dê certo ele tenha que terminar em casamento, filhos, felizes para sempre, dois velhinhos caminhando na praia e enterrados no mesmo túmulo? Isso acontece, é bonito e inspirador. Mas é um padrão de felicidade que frusta qualquer um que não está vivendo nele. Se questionamos tanto a existência da própria felicidade por que não questionar os padrões que estabeleceram para ela em nossas vidas?
Quando estamos solteiros passamos todo o tempo lamentando por não termos alguém ao nosso lado, quando a gente casa passa o tempo todo lamentando porque não temos mais liberdade... Que tal começar a viver o hoje aproveitando tudo o que ele pode te dar com aquela consciência magnífica de que nas próximas vinte e quatro horas tudo pode mudar na sua vida? Acho que já lemos e ouvimos isso centenas de vezes, muitas vezes até repetimos isso. Mas nunca colocamos em prática. 
Hoje eu olho para trás e acho que todos os meus relacionamentos deram certo. 
Em um deles aprendi a ser amada, em outro fui ensinada a amar, outro me deu um filho e aí sim eu pude saber o que é o amor. 
Alguns me divertiram um bocado, outros me encheram um bocado o saco. 
Mas tudo deu certo... No momento em que aconteceram deu certo.
O que não deu certo não foi o relacionamento (Seja da espécie que tenha sido, mediocridade querer categorizar o encontro com outra pessoa por mais breve e informal que tenha sido de "nada" e de relacionamento apenas quando você decidiu amar para sempre, ser fiel até a morte e mudar seu status no facebook até que terminaram depois de três meses... Ooops, três meses? À princípio era para sempre, não era? Qual a diferença então? Ok, essa é uma outra pauta interessante). O que não deu certo foi o monte de atitudes estúpidas ao terminar, o que não deu certo foi a infinidade de sentimentos horríveis que você cultivou depois em relação a pessoa por egoísmo, imaturidade, falta de bom senso e compreensão. O que não deu certo foi essa frustração por buscar um padrão de felicidade que não está sob nosso controle porque dependemos de uma outra pessoa. O que não deu certo foi se culpar, não se achar bom o bastante,  culpar o outro, odiar e se torturar.
Relacionamentos dão certo. Todos os dias. Uns continuam. Outros não. Em alguns se ama, em outros não. 
Seguir em frente entre encontros e desencontros é o que vale a pena. 
Se relacionando bem com você mesmo, o que faz toda a diferença. Esse é o relacionamento  que realmente depende de você dar certo e durar.
E  então nada, nada mesmo impede que possa acontecer o que chamamos de "felizes para sempre" e ele continuar...


terça-feira, 20 de março de 2012

Perdoe-se

Quantos erros não cometemos tentando acertar? Ou por acaso alguém erra de propósito?
E cá estou eu no auge dos meus 31 anos dando uma olhada na minha coleção de erros acertadíssimos e pensando que eles foram responsáveis por tudo o que sou hoje.
Estes dias eu estive passando por uma libertação incrível. Aquela que vem quando decidimos nos perdoar.
A gente junta um monte de decepções, frustrações, raiva e ódio ano após ano enquanto o tempo vai passando. Culpamos e crucificamos algumas pessoas que passaram por nossas vidas o suficiente para termos gastrite, insônias, dores musculares e um medo enorme de acreditar em quem quer que seja outra vez. A gente alimenta isso dia após dia até estarmos completamente podres. Fica se perguntando como fazer pra perdoar tanta agressão de tantos tipos diferentes. Fica tentando achar uma maneira de conviver com o passado que tantas vezes continua presente por tantos motivos sendo feliz, sem se incomodar... E não conseguimos. E a gente sofre.
Mas o sofrimento não continua aí por conta dos imbecis e cretinos que fizeram o que fizeram. Não.
Não somos responsáveis pelas atitudes de ninguém, não podemos nos culpar pelas ações alheias que nos afetaram. Que nos foderam, para ser bem clara.
O que faz a gente sofrer é o quanto a gente se culpa por enxergar o quanto fomos idiotas. Idiotas de deixar certas pessoas entrarem em nossas vidas. Idiotas por permitir que fôssemos feitos de imbecis. E a gente sofre com essa raiva de nós mesmos, enquanto transfere inconscientemente a culpa para as pessoas. Sem entender que não dá pra perdoar ou esquecer certas coisas que vieram de fora. Mas há alguém que a gente consegue perdoar... Porque a gente nunca deixa de amar. Nós mesmos.
Então de uns tempos pra cá eu comecei a entender que na hora que as coisas acontecem a gente não vê que está sendo idiota. Como a gente pode se culpar por coisas em que estivemos enganados? Porque carregar isso? E por quanto tempo mais? 
Eu decidi me perdoar. Por todas a vezes em que fui idiota. Por todas as ocasiões em que permiti que alguém em fizesse sofrer. Por ter acreditado nas pessoas erradas. Por ter me importado com o que não importava. Por ter me enganado.
A vida não vem com manual e nem bola de cristal. As pessoas não possuem selo de qualidade do Inmetro. Nenhum filho-da-puta vem com um selo escrito "filho-da-puta, lavar a seco". 
O único jeito de saber foi vivendo. O único jeito de viver foi arriscando.
Perdoe-se. Perdoe-se porque no fundo é sempre com você mesmo. Nunca foi entre você e as outras pessoas.
Perdoe-se pelos erros do passado, já se sinta perdoado pelos erros que ainda irá cometer. 
Ainda que a gente viva 100 anos e busque a sabedoria de todas as formas nunca vai saber tudo, nunca vai entender tudo.
Viva seus dias rindo. Comendo e bebendo. Sendo feliz com o que você tem. Tentando acertar sempre que puder mas sem medo de errar.
Perdoe-se e os fantasmas param de te assombrar e você consegue lidar melhor com os que não podem ser expulsos da sua vida.
Perdoe-se. Então a vida continua...

"Chore, grite, ame.
Diga que valeu, que doeu, que daqui pra frente só vai melhorar.
Perdoe, insista, ame novamente.
Não leve a vida tão a sério.
Descomplique.
Quebre regras, perdoe rápido, beije lentamente.
Ame de verdade, ria descontroladamente e nunca lamente nada 
que tenha feito você sorrir... "
Vinícius de Moraes