segunda-feira, 11 de julho de 2011

Eu não sou Jessica Rabbit

Levamos muito tempo para aprender algumas coisas. Levamos muitas decepções, muitos sonhos desfeitos, muitas traições e muita dor para aprender algumas coisas. E se a gente tenta pular alguma lição a vida vem e tenta te ensinar denovo, denovo e denovo. Até que a gente se renda e entenda que algumas coisas nunca serão como gostaríamos. NUNCA.
Eu gostaria, por exemplo, que me relacionar com as pessoas fôsse algo bem descomplicado e suave, cheio de amor e humor, sempre algo bom. Mas a regra é outra. Quase nunca é nada disso. Quando parece ser... Não era.
Infelizmente todos estão tão preocupados em competir com as pessoas que se relacionam que não conseguem estar lá com o coração. Aliás esta é uma outra boa pergunta. Será que existe ainda muita gente que realmente tenha um coração por aí? Porque o que parece é que todos estão aqui apenas como mensageiros do destino nas vidas uns dos outros, só de passagem para te dar uma nova lição.
Mulheres competem, homens competem, gays competem, homens e mulheres competem... Competição, competição, competição. Tudo se resume a isso.
Eu tenho a obrigação de ser a mais bonita, a mais gostosa, a mais inteligente, a mais engraçada, a que tem mais grana, a que se veste melhor, a mais popular... Tenho que ser algo entre Jessica Rabbit e Jennifer Aniston de segunda à segunda, vinte e quatro horas por dia. Mas quem disse isso?!?!?!
Não sou candidata a vaga de rainha da bateria de nenhuma escola de samba, não estou concorrendo ao Pulitzer, não sou líder de nenhum movimento revolucionário em pró da paz mundial, não sou política, não participo de concurso algum, nem aqueles de "Faça uma frase com o seu fermento preferido, a frase mais criativa ganhará uma viagem para Cancún com todas as despesas pagas e ainda poderá levar um acompanhante". Então por que raios eu tenho que ser alguma coisa ou me esforçar para ser a "mais" qualquer coisa? Isso vai fazer diferença? Ah, claro que vai. Com certeza eu vou me sentir muito, muito frustrada cada vez que eu não fôr a "mais" qualquer coisa  e vou deixar de enxergar o meu valor real por conta disso. E o meu real valor, e o seu real valor vai perdendo a importância a cada dia enquanto ganhamos e perdemos nossas competições por aí.
E essa competição desenfreada que estamos vivendo o tempo todo é quase sempre inconsciente, estamos tão acostumados a viver nela que deixamos de notar quando ela acontece.
Mas às vezes alguém entra de tal forma nessa viagem que começa a expressar isso de tal maneira que não podemos mais ignorar e simplesmente seguir ao lado da pessoa como se tudo fôsse normal... Chega o momento de parar e entender o que houve. Chega a hora de dar tchau. Porque algumas pessoas infelizmente só conseguem ficar felizes quando vê o outro infeliz. E estou começando a acreditar que isso tem mais a ver com o "concurso" do que com inveja. Seria mais megalomania que inveja. A pessoa não quer ser você ou igual a você. Ela só não pode suportar a idéia de que você seja melhor que ela em alguma coisa. Porque ninguém pode ser "mais", ninguém. Se você fôr vão tentar te convencer de que você não é para que você não seja... Mesmo.
E aí eu vejo que se você é alguém com talentos e qualidades que chamam a atenção das outras pessoas você com certeza em muitos momentos não se sente seguro com nada do que você é. Porque certamente ao seu redor estão as mesmas pessoas, que você conquistou com seus talentos e qualidades, prontas para minar sua segurança. Algo como o assassino de John Lennon, acho que ele representa bem a personalidade que predomina em nossa geração. O sujeito que quer atenção e não consegue, quando ele ataca alguém que tem ele sobe ao pódium... E lá está ele dividindo a champanhe por alguns momentos. Por uma maldade? Que seja. Pelo menos naquele momento ele está sendo reconhecido. Reconhecido como um filho-da-puta, mas reconhecido.
Eu não consigo mais viver com isso. Eu cansei.
Eu nunca vou ser a melhor em no mínimo um milhão de coisas e no que sou boa continuarei sendo... Não posso permitir que me cobrem ser a melhor no que não sou e nem me interessa ser, e nem pretendo me fazer de coitada e agir de acordo com o que não vai despertar a ira/inveja/espírito-de-competição nos outros. Eu vou continuar sendo o que sou. E vocês, assassinos de John Lennon, arrumem as desculpas que lhe couberem melhor para justificar os erros que cometeram comigo. Mas arrumem para si mesmos e para os outros. Porque eu não aceito mais explicações. Eu só aceito o que você fez!
Nos manteremos afastados por um abismo enorme daqui pra frente. Entre nós será pra sempre o papinho de bar, o "oi, tudo bem?", as boas histórias da época que eu confiava em você também permanecerão para sempre. Seu papel na história será sempre honrado e você terá o meu respeito, mesmo que você não tenha me respeitado. Minha resposta será essa para você. A única coisa é que do meu lado não mais. Mas acho que não vai fazer falta, afinal... Se importasse você teria me respeitado um pouco mais quando houve oportunidade. Então, pôxa vida, está tudo bem. Não vai mudar nada.
Talvez mude algo sim.
Já mudou.
Não quero ser a melhor, quero ser aquela que tem valor.
Não vivo dentro de um padrão que não me convém. Não anseio mais o que não posso ser ou ter. Me conhecer talvez seja o que realmente anseio.
Mas eu descobri algo...
Não quero ser e não sou Jessica Rabbit.
Aqui tem a Raquel, como sonhei que seria quando eu era criança, não poderia ser melhor que isto.
Quem não entende pode ir embora, quem quiser competir comigo também.
Porque eu não sou Jessica Rabbit.

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