sábado, 16 de julho de 2011

Felicidade onde?

Eu poderia apenas supôr que a vida é uma música de Aretha Franklin. O bem, o mal, o swing, as desilusões e os sonhos... Mas existem muitas outras canções. E a gente canta, dança, sente, chora, esbraveja, grita, amaldiçoa, perdoa, pede perdão, aceita e segue em frente ao som que nos toca.
Minha vida hoje é um som do Lenine. Só quem criou explica como tais notas se reuniram, algumas partes a gente nunca vai entender como surgiram e aconteceram, tem um swing incrível, muitos momentos nos levam a pensar, muitos outros só a enlouquecer...
Acho que sou uma filósofa por natureza, tenho aqui comigo todas as perguntas, respostas quase nenhuma. Mas pelo menos tenho as perguntas. Há quem não tenha nenhuma. Aí sim é triste. Ou pensam que sabem tudo ou não querem saber de nada.
A vida é sim uma pergunta procurando uma resposta. Evasivo isto? Talvez. Mas é real.
Todos os dias... Acordar, levantar, trabalhar, procurar aprender algo novo, sonhar, amar (amar às vezes o seu amigo que te disse algo tão bom hoje, o seu cachorro, a banana caramelizada na sobremesa do refeitório...), tentar ser feliz... Todos os dias... Tentar ser feliz.
Então passou mais um dia e você se pergunta se foi feliz. Então não. Não foi. Por que?
Se você tem pai e mãe e mora com eles, você está insatisfeito porque eles cuidam de você mas te enchem o saco. Se você mora sozinho está insatisfeito porque está sozinho, ponto. Se você divide a casa com um amigo você odeia o jeito dele fazer as coisas. Se é casado fica cansado do seu parceiro por tantos motivos diferentes que aí eu precisaria dedicar uma outra crônica somente para falar deles.
Se está solteiro não está feliz porque está sozinho, ponto denovo. Se namora, o namorado ou namorada enche o saco, tira a sua liberdade, não te deixa ver seus amigos, etc. Se é casado... Bom, outra crônica denovo.
E a regra se aplica a todas as outras áreas da nossa vida. E a conclusão é uma só... Felicidade onde?!
A vida é feita de tantas obrigações, mal entendidos e decepções que em alguns dias a gente não quer nem levantar da cama, fala a verdade...
Estudar, trabalhar, cuidar da casa e das coisas que possuímos, pagar contas, comer corretamente, beber dois litros de água por dia, médicos, filhos, o cachorro está doente e precisa ser levado ao veterinário, mais contas para pagar, falar com gente que a gente não quer falar, entender, perdoar, compreender, deixar pra lá... Felicidade onde? Quero minha cama, um sono profundo que dure uns 3 anos. Pode? Não.
E aquilo que dá prazer pode? Não pode. Álcool faz mal, fumar faz mal, balada demais transforma a gente em idiota e perdido que pode não se encontrar nunca mais, comida gostosa engorda, faz mal à saúde... Até chupar um Halls faz mal aos dentes. Felicidade onde?
As pessoas são difíceis, às vezes impossíveis. A gente tem tanto problema em se relacionar uns com os outros que às vezes pensa em nunca mais ver ou falar com ninguém. Alguém sabe de algum ap para alugar nas montanhas em algum bairro de eremitas? Não? Pena. Felicidade onde?
Então um dia você entra em desespero porque parece que tudo é inútil, tudo é em vão, tudo é sem sentido... Você está cansado de tentar ser melhor, de buscar soluções e sentidos, de tentar ser feliz...
Então eu digo onde a felicidade...
Um dia você vai fazer um exame médico para começar no novo trabalho e conhece a pessoa que vai trabalhar com você, o nome dela é Viviane, então descobre que ela é uma jóia rara e que tem uma amiga para a vida toda.
Você sai em um sábado à noite para uma festa junina e por acaso encontra lá seu irmão e sua cunhada e vê e sente o quanto eles estão bem.
Você precisa de um trabalho, quando ninguém acredita em você, você precisa falar um monte de coisas que ninguém mais entende, você precisa de alguém que ria das suas piadas de humor negro e faça piores para no fim dizer que "não é bem assim", você só precisa chorar e saber que alguém se importa com você... A Jéssica sempre vai ligar em um dia ou momento desses, ela sempre vai estar por perto e não vai se importar se você disser alguma coisa estúpida quando estava bêbada, ela vai entender que você estava bêbada. Um verdadeiro amigo gay presa em um corpo de mulher. Ha!
Você ficou bêbada, errou, falou o que não podia, fez o que não podia... Você não está sozinha. A Fina e a Maria Eduarda vão te fazer rir de tudo isso, te ajudar a limpar a bagunça, vocês vão dançar Madonna, vão encrencar umas com as outras depois, vão se culpar pelo que se perdeu, elas dirão então que você é ótima apesar de todas as merdas que você possa ter feito. Então você sente que não está só. Nunca...
É sábado à noite. Um dilema emocional. Ir ou não ir para um bar. Não se preocupe. Fernanda Lucena vai chegar na sua casa munida com lanches do Mac Donalds, muito humor negro e a segurança de uma amazona saindo pra guerra de que você é a companhia que ela quer a madrugada toda. Vai assistir Enrolados da Disney com você (e gostar!), vai rir de você e com você, vai falar, falar, falar, ouvir, ouvir, ouvir até às seis da manhã. Não vai se importar se você está usando um short ridículo e uma camiseta desbotada do Charlie Brown Jr., se você não penteou o cabelo, nada disso. Ela é demais... E ela não é Jessica Rabbit. Nem quer ser.
Você está pronta para ter um ataque de stress, surtar, enlouquecer, travar desde o nervo ciático até o dedinho do pé. Seus problemas acabaram! A Taty ligou e está vindo fazer qualquer coisa com você... Então ela vai te ouvir e vai rir com o jeito todo dela dos seus problemas, vai falar "foda", vai dizer "ai, Quel", vai rir mais um pouco, te dar um monte de conselhos que você nunca segue um oitavo deles talvez só para que ela volte, vai toda chique assumir o que é e o que sente sempre e vai assim te encorajar a continuar sendo o que é, tentando ser melhor. Educação por exemplo, não é pra qualquer um, bicho!
Felicidade onde?
Em todo lugar, em tantas pessoas, em tantas risadas, em tantas superações, em tantos que podem me compreender, conhecer e me dar a coisa mais preciosa que possuem, seu tempo.
Eu erro, eles erram, nós erramos. Uns acertam mais, mas também erram. Uns erram mais, mas também acertam. E assim a gente vai encontrando felicidade em todos os momentos.
Eu sou o mais típico exemplo de pessoa que não é uma completa inútil porque serve de mau exemplo. Eu tenho mil defeitos e muito a aprender. É felicidade também poder enxergar isso.
Felicidade há até em minha solidão.
É nela que eu posso refletir e perceber que felicidade existe.
Vou chegar em casa hoje e a Indi vai me receber como se eu fôsse um dos Beatles.
Felicidade onde? Viver!

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