domingo, 17 de julho de 2011

Um domingo para não quem não quer nada...

Só sabemos falar das coisas que queremos. O tempo todo. Hoje eu decidi viver um domingo sem querer nada. Será que você realmente precisa daquilo que pensa que precisa? Será que você realmente quer aquilo que acha que quer?
Será que sonhei o sonho certo para a vida errada? Será que o sonho errado é a resposta para a vida certa que segue por caminhos e encontros que não surgiram no momento devido? Será o momento devido o dia que não chega enquanto preenchemos os espaços em branco tentando encontrar a nós mesmos?
Hoje eu decreto. É um dia vazio. Eu não vou trabalhar para comprar todas aquelas coisas que não preciso. Não vou tentar agradar ninguém. Não vou colocar uma roupinha descolada e estilosa para sair por aí. Não vou me maquiar para parecer mais bonita por fora enquanto o que é belo se esconde por trás de todas as máscaras. Eu não vou ter vontade de falar com alguém se o que tenho a dizer não significa nada para ninguém mais. Eu não vou arrumar nada ao meu redor, nada precisa tanto assim da minha atenção. Eu não vou trocar a música se quero ouvi-la pela centésima vez esta semana. Eu não vou pensar nem no ontem, nem no amanhã. Já foi, ainda será. Hoje eu quero tudo de graça. Hoje eu não sou exemplo para ninguém. Hoje eu não vou entender, nem compreender, nem sonhar, nem fazer planos. Hoje não... 
Eu não quero dinheiro.
Eu não quero seu amor.
Eu não quero sua atenção.
Eu não quero saber sobre os seus problemas, eles não são diferentes dos meus, eu não quero saber dos meus.
Eu não quero seu sorriso forçado, menos ainda sua saudação sem saudosismo, menos ainda seu olhar que finge interesse, nem que você me pergunte se tudo vai bem. Não vai. Hoje eu não quero nada.
Isso não quer dizer que eu esteja triste.
Eu não anseio ser parte da geração insone, perplexa e inconformada da qual faço parte. Eu não quero ser parte de nada. Eu sou inteira. E ainda que nada, completa.
E talvez também não quisesse plenitude se ela significa filosofia sem fim, questionamentos que me impedem de encarar um vazio tão cheio de mim mesma e não do nada que queria encontrar.
O budismo diz que a ausência do desejo é a ausência do sofrimento.
Hoje eu não quero saber.
Hoje eu não quero sentir.
Hoje eu não quero sorrir.
Hoje eu não quero sofrer. 


Foto de Camile D'Avila


"Dizem que a gente tem o que precisa. Não o que a gente quer. Tudo bem. Eu não preciso de muito. Eu não quero muito. Eu quero mais. Mais paz. Mais saúde. Mais dinheiro. Mais poesia. Mais verdade. Mais harmonia. Mais noites bem dormidas. Mais noites em claro. Mais eu" Caio Fernando Abreu

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